O CIFOR-ICRAF Brasil esteve presente na Conferência sobre Diversidade Biológica para a realização do evento paralelo Rumo a 2030: Estratégias nacionais e implementação de NBSAPS, organizado em parceria com Instituto Sociedade, Populações e Natureza (ISPN)
A restauração de ecossistemas nos países da América Latina foi o tema central do evento paralelo durante a COP 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), realizada na Zona Verde, em Cali, Colômbia. O encontro ocorreu no dia 21 de outubro e reuniu especialistas, representantes dos governos e de organizações da sociedade civil de Brasil, Colômbia e Peru. O diálogo proporcionou uma troca de experiências sobre as estratégias e metas nacionais de restauração nos países latino-americanos.
Sineia Wapichana, coordenadora do Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), foi uma das painelistas presentes e apresentou aos ouvintes o Calendário Cultural, uma ferramenta de monitoramento da perda da biodiversidade desenvolvida pelos povos indígenas em Roraima e no Amazonas. “Quando falamos de biodiversidade, ficamos preocupados com as perdas que temos vivido nos últimos tempos. Quantas perdas já tivemos de plantas medicinais que não estamos mais encontrando? Quantas perdas tivemos de plantas para nos alimentar? Nós, povos indígenas, temos uma conexão diferente com a biodiversidade”, explicou.
Jenny Paola Gallo Santos, do Ministério do Meio Ambiente da Colômbia, enfatizou que a estratégia de restauração da Colômbia se concentra em restaurar a governança territorial com as pessoas em seu núcleo. O país pretende restaurar 5 milhões de hectares de terras degradadas até 2030. Também da Colômbia, o biólogo Carlos Salazar, destacou que a restauração e a educação ambiental andam lado a lado, conectando conhecimentos de gerações atuais e antigas. O financiamento a longo prazo e o estabelecimento de políticas públicas também foi um ponto de destaque na discussão, sendo apontados como fatores-chave para que as ações de restauração ecológica na América Latina tenham longevidade e ganhem escala.
A moderadora Daniele Celentano, analista de Restauração Ecológica do Instituto Socioambiental, pontuou que “restauração não pode ser um paliativo” e que o processo deve integrar uma agenda robusta de conservação, colocando as pessoas no centro do processo. Além disso, compartilhou a experiência das Muvucas realizadas pela Rede de Sementes Nativas (Redário). A muvuca é a mistura de sementes de diversas espécies vegetais para plantio direto, o que resulta na combinação de espécies arbustivas, arbóreas e leguminosas, por exemplo.
“Discutimos que a restauração não é só plantar árvores. Restaurar é um processo bio-cultural, que precisa levar em conta, também, o conhecimento da ciência e do território que os povos e comunidades tradicionais detêm, historicamente”, avalia Alison Castilho, Coordenador de Território do CIFOR-ICRAF Brasil.
Entre as principais conclusões, os painelistas e participantes concordam que as Soluções baseadas na Natureza (SbN), como os Sistemas Agroflorestais, são essenciais para que a restauração nos três países seja bem-sucedida, pois é preciso integrar os fatores econômicos, sociais e culturais aos ambientais.